Concepções de história: desafios atuais
Luís Távora Furtado Ribeiro[1]
Doc. AE2. 2.4
Para falar da missão da história nos dias atuais recorro a Jacques Le Goff (2001) e a Erik Hobsbawm (1996). Para o primeiro, cabe à História refletir para o tempo presente e compreender um mundo marcado por uma “instabilidade definitiva”. Para isso cabe realizar uma tarefa indispensável e complexa: relacionar a vida cotidiana – moda, costumes, sexualidade, gastronomia, manifestações religiosas, hábitos de consumo – a um tempo em que ocorrem mudanças de longa duração – guerras , revoluções, pandemias, ciência, arte. Por sua vez, Hobsbawm menciona o mais “lúgubre” problema que atinge as novas gerações: a perda da noção de passado público. Como se percebe, o que se preserva hoje é a memória individual, das relações interpessoais e de pequenos grupos. Vivemos aqui esse resgate bem documentado através de fotografias e filmes de celebrações e festas familiares, bem como a novidade da memória de si mesmo nas fotografias retiradas pelo telefone celular. Sobre o passado público que se perde e que não traz lições, recentemente, um jovem príncipe inglês compareceu a uma festa à fantasia trajando um uniforme de oficial alemão da segunda guerra, enfeitado no ombro com uma vistosa cruz suástica. Também é emblemática a declaração de um renomado técnico de futebol brasileiro, elogiando os métodos pragmáticos e eficazes de um ditador chileno ainda vivo. Também podem-se mencionar o incentivo à presença de massas sociais abandonadas pelas políticas públicas nos cultos pentecostais, vivenciando a novidade antropológica de estar em grupo, mas sem identidade pessoal. Encontramos aqui uma busca desesperada por soluções particulares, como se os problemas comuns – especialmente saúde e desemprego - tivessem apenas uma dimensão individual. Para o autor é como se vivêssemos numa espécie de presente contínuo, com a perda do passado público deixando a todos sem qualquer perspectiva de