Concentração de renda
CONCENTRAÇÃO DA RENDA E REALIZAÇÃO
DA ACUMULAÇÃO: AS PERSPECTIVAS CRÍTICAS
Convém discutir, agora, a questão de se o estágio a que chegou a economia capitalista do Brasil, com um grau de concentração da renda como o detectado pelo Censo Demográfico de 1970, constitui um problema crítico para sua ulterior expansão. Até que ponto, encarando-se o problema estritamente do ângulo das possibilidades estruturais e desprezando-se qualquer ótica reformista, uma renda extremamente concentrada é benéfica ou é um risco para a expansão capitalista? Aqui se faz a ligação com a questão da realização da mais-valia e da acumulação: que significado tem, em termos de mercado, uma renda tão concentrada; gera um mercado suficiente para realizar a acumulação, compatível com o nível de desenvolvimento das forças produtivas?
A controvérsia sobre os efeitos da concentração da renda no desenvolvimento econômico não tem produzido resultados muito positivos, principalmente pelo fato de que a discussão tem sido muito mais ideológica que científica. A influência neoclássica de não reconhecer a distribuição como um tema da economia vingou durante muito tempo, prejudicando sensivelmente a abordagem do assunto e afastando dele os melhores esforços teóricos. Por outro lado, na discussão não tem predominado um critério de homogeneidade tanto de universo conceituai como de sistemas de referência: frequentemente, são propostos esquemas de distribuição próprios de um sistema socialista pata avaliar o padrão de distribuição vigente em economias capitalistas; mas, na verdade, esse tipo de discussão coloca falsos dilemas sobre a correlação entre distribuição da renda e expansão em economias capitalistas.
Uma maneira de abordar o tema seria tentar verificar até que ponto a expansão do capitalismo no Brasil reproduz a história da construção do capitalismo nos países centrais. Kuznets, um dos poucos estudiosos sistemáticos do assunto, assinala que os primeiros estágios de