Comportamental

Dona Eufrásia – após cozinhar por 25 anos para festas, restaurantes e famílias – decidiu divulgar sua arte e arredondar a modesta renda familiar, oferecendo em casa um curso “Cozinha de Forno e Fogão”. (A palavra culinária, além de soar mal, parecia-lhe muito “tecnológica”).
Tinha quatro alunas, jovens: Amélia, Berenice e as irmãs Clorinda e Florida. Delas, Florinda era a mais instruída, segundo grau completo. Todas, porém, tinham de escrever as receitas e os modos de preparo ditador por dona Eufrásia a cada aula, para a elaboração dos pratos à aula seguinte. Em casa, cada aluna também deveria estudar a receita e exercitar o modo de preparo, a fim de apresentar ao grupo suas dúvidas. Na aula seguinte, as alunas entregavam o registro das dúvidas. Modesta, dona Eufrásia solicitava ainda que as alunas corrigissem eventuais problemas de linguagem. (O marido havia sugerido que ela organizasse um livro de receitas, com vistas a engordar o saldo bancário da família). Tudo corria bem – as alunas aprendendo, entregando os registros de dúvidas e efetuando alguns reparos gramaticais – até que um dia, ao ler o trabalho de Florinda, Dona Eufrásia entrou em depressão: a aluna sugerira tantas correções na linguagem que ela se sentiu ignorante e despreparada para um dia escrever o tão sonhado “Livro de receitas de dona Eufrásia”. Não era para menos: a cada passo da receita ditada, Florinda incluía, entre parênteses, termos que Dona Eufrásia nunca tinha visto ou ouvido. Ela não sabia que, na ânsia de aprender o que pudesse, a aluna completara um curso por correspondência sobre “Psicologia do Comportamento”, oferecido por um tal Grupo Sigma, já antigo na cidade. (Recentemente, o grupo começou a oferecer cursos noturnos de parapsicologia e se tornou o instituto para-sigma). Assustada, Dona Eufrásia mostrou ao marido as correções de Florinda. Depois do sustou, ele encorajou a mulher: “Essa moça está maluca, inventou esse palavrório só para aparecer. Ela quer mostrar que tem mais