Como Fazer um Resenha
FLORES ARRANCADAS NO CAMPO DA MEMÓRIA:
ASSUJEITAMENTO NO PROCESSO DISCURSIVO
Mônica Fernandes1
PROCUREI-ME nesta água da minha memória que povoa todas as distâncias da vida e onde, como nos campos, se podia semear, talvez, tanta imagem capaz de ficar florindo...
(...)
Minhas dimensões se aboliram nos limites visíveis: como podes saber onde me circunscrevo, e de que modo me pode o teu desejo atingir?
(...)
Pela experiência do teu contentamento, crio formas que vistam meus pensamentos irreveláveis, e modelo fisionomias com que te possa aparecer.
(MEIRELES, 2001, p. 284)
A memória é um campo de água, em que, segundo a poeta, semeamos os sentidos. As sementes brotam imagens no espelho das águas que nos fazem sentido. Algumas, porém, permanecem em estado de dormência e só podemos, de fato, compreendê-las quando analisamos como se vestem seus pensamentos e se modelam suas fisionomias.
É a partir desses limites visíveis entre o que se circunscreve e o profundo escuro das águas da memória, marcados por suas regularidades, que Jean-Jacques Courtine tece observações sobre a memória e o esquecimento na enunciação do discurso político.
Courtine desenvolveu uma estreita relação com a Análise do Discurso. Integrou o grupo de pesquisa liderado por Michel Pêcheux, na França, e participou do número histórico da revista Langages, n° 62, dedicado integralmente à análise do discurso político, que representa parte essencial na sua tese de doutorado.
Influenciado pelo conceito de “domínio associado do enunciado” de Foucault, Courtine dedica-se a estudar este agente histórico que tem peso capaz de modificar práticas, o enunciado. Todo enunciado possui um domínio associado e essa relação pode