Comentário da Carta do papa Gelásio ao imperador Anastácio I
O texto é um fragmento de uma carta enviada em 494 que o papa Gelásio enviou ao imperador bizantino Anastácio I, não é um texto público sendo por isso uma correspondência dirigida. O papa em causa deteve o cargo entre 492 e 496, foi um defensor do maniqueísmo (doutrina que classifica a matéria como algo intrinsecamente mau e o espírito como algo intrinsecamente bom. Este fragmento é conhecido como Duo sunt, no qual fala da existência de dois poderes: a autoridade papal e do poder real, e impõe a primeira em cima do outro afirmando que, apesar de a monarquia ser uma autoridade divina sobre o povo, estão abaixo da Igreja e tem de a obedecer e respeitar.
Esta carta, como foi referido, foi escrita no ano de 494. Esta data representa um período em que o Império Bizantino liderada por Anastácio que defendia os monofisitas da ideia de que Jesus estava presente na forma espiritual e divina, mas não na humana. Portanto, o Imperio era cada vez mais afastado da Igreja de Roma. Enquanto no Ocidente a religião oficial era o catolicismo no Oriente era monofisismo. Este foi assim um conselho assinado em meados do século V por Papa Leão I e outros teólogos.
Nascido em Roma, Gelásio era de origem africana, culto, inteligente e dotado de personalidade forte. Cristão fervoroso, era conselheiro do papa Félix III, que vinha tentando conciliar as igrejas do Ocidente e do Oriente. Em 492, com a morte do papa, ele foi eleito sucessor para dar continuidade a essa política, o que não conseguiu por causa da oposição do imperador Anastácio I.
Papa Gelásio I muito fez para a manutenção da doutrina recebida dos apóstolos, combatendo e tentando eliminar as heresias dos sacerdotes Mane e Pelágio. Foi o primeiro pontífice a expressar a máxima autoridade do bispo de Roma sobre toda a Igreja. Deixou isso claro em uma carta escrita por ele a Anastácio I, na qual se faz uma nítida distinção entre poder político e poder religioso.