Clínicas de repouso de dalton trevisan
RESUMO: Este artigo pretende abordar como as relações familiares presentes no conto “Clínica de repouso” de Dalton Trevisan, retratam a subversão das ordens patriarcal e matriarcal, apontando para a alteração do núcleo familiar brasileiro tradicional como resultante de transformações históricas e políticas no país. Pretende-se também examinar um possível sentido alegórico da narrativa a partir da internação da mãe de Maria, D. Candinha, protagonista da narrativa, que parece questionar práticas opressivas do regime político da época. Tal sentido pode ainda ser enfatizado pela utilização de elementos cômicos na obra.
PALAVRAS-CHAVE: literatura brasileira; modernismo; família; ditadura militar. DALTON TREVISAN: SUA OBRA E SEU TEMPO
Dalton Trevisan, nascido em 1925 em Curitiba, é conhecido do mundo literário e jornalístico por sua reclusão. Divulgador incontestável do conto, o autor contribuiu para a literatura brasileira com algumas obras de reconhecida importância como O vampiro de Curitiba, conto publicado em 1965 no livro homônimo. Na obra de Trevisan há destaque para personagens do submundo, com hábitos pouco aceitos socialmente e de natureza violenta. Seus textos possuem em muitos momentos elementos do fantástico que parecem sinalizar para algo exterior à obra, funcionando como dura crítica social.
Isto não é tão surpreendente se considerarmos que Trevisan teve grande parte de sua obra escrita e publicada durante o período da Ditadura Militar no Brasil, de 1964 a 1984. Neste momento, o mundo passava por diversas mudanças significativas para a organização familiar ortodoxa, entre elas uma tendência à inserção de mulheres no mercado de trabalho em virtude das duas grandes guerras mundiais e da consequente ausência de trabalhadores do sexo masculino nas cidades. Também foi no período imediatamente antecedente à Ditadura Militar que o Brasil