Classicismo - M Moisés
PRELIMINARES
Quando Gil Vicente encenava a derradeira peça (1536), já ia alto o decisivo processo histórico que levou o povo português a posições jamais alcançadas, antes ou depois: o Renascimento. Antecedeu-o e preparou-o um movimento de cultura que agitou as últimas décadas da Idade Média: o Humanismo, caracterizado pela descoberta dos monumentos culturais do mundo greco-latino, de modo particular as obras escritas, em todos os recantos do saber humano, e por uma concepção de vida centrada no conhecimento do homem, não de Deus. À descoberta, decifração, tradução e anotações desse rico espólio de civilização e cultura, parcialmente esquecido ou confinado em conventos durante os séculos medievais, seguiu-se o desejo de fazer ressuscitar o espírito da Antiguidade Greco-Latina. Tal estado de coisas, ligado às comoções próprias do tempo (descobertas científicas, invenções, a Reforma luterana, etc.), veio a constituir-se no Renascimento. As circunstâncias históricas e uma peculiar situação geográfica confiaram ao povo lusitano um papel de superior relevo na evolução do Renascimento. É que Portugal, através de alguns estudiosos e, particularmente, das descobertas marítimas, vai colaborar de modo direto e intenso no processo renascentista: letrados portugueses, como os Gouveias (André, Antônio, Diogo), Aquiles Estaco, Aires Barbosa, e outros, disseminavam as novas ideias em universidades estrangeiras, entre elas a de Paris. Todavia, foi a alargamento dos horizontes geográficos, com sua corte de consequências econômicas e políticas, que conferiu ao povo português primacial importância histórica no período que vem desde os fins do século XV até meados do século XVI.
Com efeito, a descoberta do caminho marítimo para as Índias, empreendida em 1498 por Vasco da Gama, seguida pelo “achamento” do Brasil em 1500, cercou-se duma série de semelhantes e felizes cometimentos, que permitiram a Portugal gozar