clarice lispector
G.H. não tem nome, fato que a faz identificar-se com todos os seres. O enredo aparentemente tolo – a demissão da empregada doméstica faz com que a patroa faça uma faxina no quarto da funcionária, onde encontra uma barata – se torna um momento de profunda reflexão existencial. Ao ver e encarar a barata, ao esmaga-la e ao comê-la, a protagonista encontra a verdadeira razão de estar no mundo.
RESUMO
Seis meses após a demissão da empregada doméstica, G.H. resolve fazer uma arrumação no antigo quarto da funcionária, ao entrar ali ela emerge em seu próprio vazio interior. Tomada pela aflição ela procura algo para fazer, mas não há nada. Até que surge uma barata saindo do guarda-roupa; nesse instante a personagem é tomada por uma consciência de solidão.
A protagonista é tomada pelo nojo da barata, mas precisa enfrentá-la, tocá-la e provar o seu sabor. A náusea que a toma violentamente representa a angústia que antecede a epifania e resulta na dolorosa sensação de fragilidade da condição humana.
Com o intuito de retomar seus instintos primitivos, G.H. deve enfrentar a experiência de provar o gosto do inseto. O provar simboliza uma reviravolta em seu mundo alienado, imune e condicionado. Após o ocorrido é que a personagem se dá conta do seu verdadeiro estar no mundo. É tanto que depois ela tem dificuldades em narrar a sua impotência de descrever os fatos.
Só à ideia, fechei os olhos com a força de quem tranca os dentes, e tanto apertei os dentes que mais um pouco eles se quebrariam dentro da boa. Minhas entranhas diziam não, minha massa rejeitava a da barata.