Ciências sociais
julio pinto2
Por mais que professemos o contrário, nós, habitantes da chamada Academia, ainda somos culpados, creio, de tentar compartimentar conhecimentos em pequenos nichos. Num mundo contemporâneo em que vem tudo junto, e tudo misturado, num verdadeiro ninho de cobras em que não se sabe onde começa o ofídio e onde acaba a serpente, esse ofício epistemológico de criar gavetas parece-me particularmente vão. Tal diagnóstico já praticamente se tornou domínio público, embora talvez seja benéfico lembrar um de seus arautos. Lipovetsky, por exemplo, em um livro de 2004 (Os
tempos hipermodernos), fala-nos da horizontalização da experiência e da cotemporaneidade dos contrários, fenômenos que nos permitem inferir que é fútil qualquer tentativa de criar silos epistemológicos. Esse afã engavetador tem também seus aspectos políticos, é claro. O fascínio da imagem e da virtualidade vem, hodiernamente, ocupando os palcos acadêmicos na área de Comunicação, deixando o som, coitado, em estado de lamentável ostracismo a necessitar de urgente correção, ainda mais quando sabemos que ele é um dos portais daquela benéfica confusão dos sentidos que nos assalta quando o ouvimos em certas condições. Em outras palavras, o som é um dos supervisores da peculiar onda sensorial e sígnica a que chamamos sinestesia, fator tão importante para nossa missão de existir no cotidiano. Daí o presente exercício que ofereço aos leitores, na tentativa, não de resgate do som, mas de re-acordar (como a repetição periódica do alarma do despertador, a que chamamos soneca) nossas consciências para o fato de que essa
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Artigo pulicado em Rádio em Revista,.Belo Horizonte: UFMG, Dez.2007, n. 4, p. 39-41. Professor de Semiótica, PUC Minas. A pedido do autor, grafamos seu nome em minúsculas.
mídia, o rádio, é tão híbrida quanto tudo o mais na contemporaneidade e, por isso mesmo, tão merecedora de nosso respeito analítico. É o caso, suponho, de começar esta