Ciências naturais, ciências sociais e humanidades
Ciências naturais, ciências sociais e humanidades (com um adendo sobre a necessidade de rever o sistema de avaliação da
CAPES)1
Simon Schwartzman
“O livre pensar é só pensar” (Vão Gogo)
As duas culturas
Em uma famosa conferência feita em 1959, o cientista e novelista inglês C. P. Snow lamentava a separação crescente que ele observava entre a cultura científica e a cultura humanística, ou literária (Snow 1990). Segundo ele,
In our society (that is, advanced western society) we have lost even the pretence of a common culture. Persons educated with the greatest intensity we know can no longer communicate with each other on the plane of their major intellectual concern. This is serious for our creative, intellectual and, above all, our normal life. It is leading us to interpret the past wrongly, to misjudge the present, and to deny our hopes of the future. It is making it difficult or impossible for us to take good action."
Snow reconhece que era uma simplificação falar em somente duas culturas, porque frequentemente físicos e biólogos tampouco se entendiam, tanto quanto músicos e escritores. Ainda assim, ele acreditava que a classificação em duas fazia sentido (de um lado os que, de alguma forma, faziam ciência, de outro os que faziam literatura) e se
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A prmeira versão deste texto foi preparada a partir de reunião sobre Avaliação de
Competência Científica, apoiada pela CAPES, em Búzios, Rio de Janeiro, julho de 2007, sob a coordenação de Leopoldo de Meis. 1
preocupava com a ignorância recíproca e a tensão entre elas. A maneira de resolver o problema, segundo ele, era pela educação das elites. Em vez de uma educação cada vez mais especializada, uma educação ampla, que fizesse, como em Cambridge cinqüenta anos atrás, com que as pessoas interessadas em literatura e artes estudassem matemática, e os de vocação científica, artes e literatura. É provável que, por “literatura”, Snow estivesse entendendo também toda a