Ciência Médica, saúde e progresso
Nas ciências médicas os resultados do progresso parecem autolegitimar-se pelos seus impressionantes avanços, fazendo-as adquirir uma auréola mágica e determinista que as coloca acima da razão e da moral. A razão técnica agora oferece a “cura”, originando uma lógica própria e um poder sem limites. Ficamos reféns de sucessos que não se sustentam em valores. Restrições quanto à excessiva medicalização ou dependência tecnológica da medicina, são questões encaradas sistematicamente como posição reacionária de quem não quer o progresso. A civilização contemporânea gasta mais tempo e recursos focados quase que exclusivamente na doença, e não no doente. Um importante especialista internacional na área de check-ups clínicos, declarou recentemente que não há indivíduos sãos, apenas doenças ainda não diagnosticadas. A medicalização desconhece limites e faz a doença ser percebida como normal, até mais normal do que a condição de estar saudável. Nas pesquisas de Frank Furedi, professor da Universidade de Kent, ele exemplifica com a contínua descoberta das “ da semana” num boletim de divulgação médica: “Especialistas afirmam que a paixão amorosa é uma doença genuína, que precisa receber atenção especial e ser diagnosticada”. Se não for “tratada”, um problema mais grave pode estar a caminho. E os estímulos para tornar coisas desse gênero uma doença estão nos outdoors de todas as cidades importantes do mundo: “Disfunção erétil agora tem solução. Consulte o seu médico”. Remédios com eventuais efeitos colaterais são transformados em objeto de desejo pela propaganda global. E pesquisa publicada pela Revista da Associação Médica Americana mostra que a probabilidade de um paciente obter do seu médico o remédio que deseja, mesmo que não seja o mais indicado para o seu caso, aumenta quando o cliente pede por ele. O uso de drogas para tratar distúrbio de hiperatividade por déficit de atenção, doença