O primeiro, a courtoisie, designa o padrão feudal e, embora as maneiras cavaleirescas medievais nunca tenham sido tão estritas e repressoras dos instintos naturais como as maneiras impostas em épocas posteriores, Elias escolhe esta época histórica como ponto de partida para o seu estudo (embora fazendo a importante ressalva para o facto de o processo civilizacional não ter um grau zero de iniciação, pois sempre existiu e é interminável), já que residem aí muitas das linhas-chave da evolução civilizacional europeia. O termo courtoisie expressa o sentimento de auto-distinção da camada superior secular, da elite pertencente à corte e desejosa de se fazer distinguir das restantes camadas sociais através de um comportamento específico; já está também aí presente a centralidade social do comportamento à mesa e a homogeneidade de comportamentos entre todas as camadas cortesãs, independentemente da sua localização geográfica ou nacionalidade: todos os tratados leigos medievais de que dá exemplos (Elias escolhe propositadamente três casos de diferentes proveniências) – o Roman de la Rose, The Book of Nurture ou as Tichzuchten alemãs – revelam uma mesma corrente de tradição comportamental recomendada à camada social superior. A sociogénese do comportamento courtois corresponde então à sociogénese das grandes cortes feudais europeias, locais onde se começam a formar os primeiros sistemas de monopólios (Elias distingue três tipos de monopólios essenciais à formação de um poder centralizado: o monopólio militar e da violência física, o monopólio fiscal e o monopólio económico) e onde já se identificam núcleos consideráveis de poder centralizado. No território francês esta fase civilizacional corresponde aos séculos XI-XIII, quando o detentor da coroa real possui apenas um poder simbólico sobre os restantes senhores feudais, pois as suas posses e potencialidades económicas e militares são iguais às dos demais. Só no século XIV, após o período de grande conturbação marcado pela