Cinzas do norte
Luciana Gomes de Oliveira
Turma A
A mistura de discursos entre personagens e narradores em Cinzas do Norte de Milton Hatoum.
São Paulo, 2008.
Este é o lugar social da literatura: uma maneira enviesada ou indireta de conhecimento do mundo, de nós mesmos e do Outro”.
(Milton Hatoum)
A PROPOSTA
A proposta deste trabalho é analisar a mistura de discursos entre personagens e narradores no romance polifônico Cinzas do Norte, de Milton Hatoum, apontando passagens no texto que permitam-nos uma maior reflexão e entendimento.
REMEXENDO AS CINZAS
Interessa-nos um breve comentário sobre o conceito de dialogismo e polifonia para compreendermos a mistura de discursos entre personagens e narradores em Cinzas do Norte, de Milton Hatoum.
Bakhtin, durante toda a sua vida, foi fiel ao desenvolvimento de um conceito: o dialogismo. Sua preocupação básica foi a de que o discurso não se constrói sobre o mesmo, mas se elabora em vista do outro. Em outras palavras, o outro perpassa, atravessa, condiciona o discurso do eu. (BARROS, Fiorin, 1999, p.29).
Numa construção dialógica, a personagem não se deixa conduzir pelo narrador, nem repousa na voz do autor. A voz da personagem dialoga com a voz do autor ou o próprio autor dá voz à personagem, que por sua vez, interage com outras vozes que ecoam simultaneamente no romance, culminando assim, na chamada “polifonia”. Segundo Bakhtin, nos textos polifônicos, os diálogos entre discursos mostram-se, deixam-se ver ou entrever; (BRAIT, Beth, 1997, p.35).
Milton Hatoum, nascido em Manaus em 1952, descendente de libaneses, ganhador de três prêmios Jabuti de melhor romance é, sem dúvida, um dos mais importantes e premiados escritores contemporâneos.
Em Cinzas do Norte,