Cinco teses sobre a relação da religião com a política
ESTUDOS AVANÇADOS 13 (35), 1999
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Cinco teses sobre a relação da religião com a política
ROBERTO MANGABEIRA UNGER
A tese da personalidade de possibilidades de ligação pessoal – de relacionamentos intensos e transformadores entre os indivíduos – constitui parte central das visões desenvolvidas pelas históricas religiões da salvação. Cada uma dessas visões promete a felicidade mediante a anulação ou atenuação do conflito entre a necessidade que temos uns dos outros e o risco que criamos uns para os outros. Experimentar de algum modo essa reconciliação é tornar-se livre; prometer a felicidade é prometer a liberdade. A estrutura narrativa da crença das religiões históricas apresenta um mundo em que a promessa de felicidade faz sentido. O imperativo ético das religiões históricas mostra como este mundo pode ser transformado em realidade, reforçando seu poder de alavancagem na vida de cada dia.
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MA EXPERIÊNCIA EXEMPLAR
Essa interpretação das religiões certamente privilegia as formas de consciência religiosa que colocam o pessoal acima do impessoal (por exemplo, a religião da Bíblia acima das doutrinas de Platão ou Spinoza). Pode, porém, abarcar até mesmo aquelas, como o Budismo, que rejeitam a realidade da experiência individual em toda a sua extensão, pois o que a estrutura narrativa dessas religiões parece negar, seu imperativo ético pode reafirmar. Além disso, esse modo de entender a religião também sugere um modo de evitar a escolha entre explicações metafóricas e explicações literais da crença religiosa.
A relação básica da religião com a política decorre do papel formador atribuído às relações pessoais exemplares da experiência e visão religiosas.
A forma mais significativa de teologia política não está no ensino oficial sobre o Estado, mas na imagem de possíveis associações humanas que se representa na comunidade e nas ações dos crentes. Por exemplo, no Brasil os movimentos pentecostais, promovendo conversões aos