Ciencias
Desde a época em que os selvagens chamavam de “homens” apenas os membros de sua tribo, a definição do “humano” ampliou-se consideravelmente: ela veio a ser um fenômeno universal. A universalidade não se funda, com efeito, em nada mais a não ser a tautologia e a duplicação: é aí que o “humano” assume força de lei moral e de princípio de exclusão. Porque o “humano” é de imediato a instituição de seu duplo estrutural: O inumano. Ele na verdade não é nada mais do que isso, e os progressos da humanidade, da cultura, não senão a cadeia de discriminações sucessivas que acusam os “outros” de inumanidade e, portanto, de inutilidade. Para os selvagens que se dizem “homens”, os outros são outra coisa para nós, pelo contrário, sob o signo do humano como conceito universal, os outros não são nada. Nós nos contentamos com uma promoção de um valor genérico abstrato indexado á equivalência da espécie, excluindo-se todo resto.O racismo é moderno. As culturas ou raças anteriores se ignoraram ou se anularam, mas nunca sob o signo de uma Razão Universal. Não há critério do homem, nada de partilhado inumano, apenas diferenças que podem se enfrentar até a morte. Mas é o nosso conceito indiferenciado do Homem que faz surgir a discriminação. Michel Foucault analisou a extradição dos loucos ao alvorecer da modernidade ocidental, mas também sabemos o que acontece com a extradição de crianças, com sua progressiva reclusão, ao fio mesmo da razão, em seu estatuto idealizado de infância, no gueto do universo infantil, na abjeção da inocência. Mas também os idosos se tornaram inumanos, rejeitados, situados na periferia da normalidade.
A análise de Foucault é uma das peças mestras dessa verdadeira história da cultura, dessa Genealogia da Discriminação em que o próprio trabalho e a produção ocuparão um lugar decisivo. Contudo, é uma exclusão que precede todas as outras, mais radical que as dos loucos, das crianças, das raças inferiores, exclusão que as