Ciencias
Memorial do Convento
A construção do Convento de Mafra, a cumprir uma promessa de D. João V, o espectro da
Inquisição, o mistério dos poderes mágicos de Blimunda e o seu amor a Baltasar Sete-Sóis, o projecto da passarola voadora, do Padre Bartolomeu de Gusmão, e o povo trabalhador e humilde dão corpo a esta obra. Com as memórias de uma época, reinventando a História pela ficção, José Saramago constrói um romance histórico, mas simultaneamente social ao fazer a análise das condições sociais, morais e económicas da Corte e do povo.
Memorial do Convento privilegia a caracterização de uma época que contrasta pelos excessos
(demasiada riqueza/extrema pobreza; frequente devassidão/grandes penitências; etc.) e que mantém contemporâneas muitas das temáticas a nível social e humano (opulência/ miséria; poder/opressão; sagrado/profano; amor ausente/amor sincero e fantástico; o sonho; etc.).
I – Contextualização
Memorial do Convento evoca o período da história portuguesa respeitante ao reinado de D. João V, no século XVIII, procurando uma ponte com as situações políticas de meados do século XX. Reescreve essa época de luxo e de grandeza da Corte de Portugal, que procura imitar o esplendor da Corte francesa do Rei-Sol, Luís
XIV (reinado de 1643-1715). O poder absoluto e o iluminismo que configuram este século das luzes vão marcar os seus gostos estéticos e as mentalidades de uma forma decisiva.
Em Portugal, D. João V deixa-se influenciar pelos diplomatas que o cercam – intelectuais estrangeirados (D. Luís da Cunha, Alexandre de Gusmão, Francisco Xavier de Oliveira – o Cavaleiro de
Oliveira – e Luís António Verney) – e pela riqueza vinda do Brasil.
O descobrimento no Brasil de grandes jazidas de ouro de aluvião permitiu a resolução de alguns problemas financeiros e levou o rei a investir no luxo dos palácios e das igrejas. Ao querer ultrapassar a magnificência do Escorial de Madrid e do Palácio de Versalhes, e em