CIENCIAS SOCIAIS

Pigmeus devorados
Canibalismo ressurge como arma no conflito mais cruento da África

No papel, a guerra civil que durante os últimos anos devastou o Congo já acabou. Um acordo de paz foi assinado em dezembro. Na prática, os horrores de um conflito quase esquecido pelo mundo, travado nas matas fechadas do coração da África, ainda continuam vindo à tona. Foram 3 milhões de mortos e outros 2 milhões de refugiados, segundo o cálculo aproximado de organismos internacionais. Saques, execuções sumárias, massacres de vilas inteiras, limpeza étnica de tribos inimigas, punições com amputação de braços ou pernas, estupros e até casos de escalpamento foram documentados por instituições humanitárias. Na semana passada, o festival de barbaridades ganhou um novo elemento com a denúncia de que dois grupos rebeldes praticaram canibalismo contra tribos de pigmeus da região leste do país. Não se sabe o número de vítimas. Os grupos guerrilheiros costumam embrenhar-se pelas florestas tropicais em busca de retaguarda protegida e de riquezas minerais para custear suas atividades. Os pigmeus, que vivem em pequenas comunidades dentro da mata, geralmente são contratados para arrumar comida para os combatentes. Os episódios de canibalismo, segundo relato que chegou a enviados da ONU, ocorreram depois que alguns pigmeus retornaram de mãos vazias — e acabaram mortos e devorados pelos rebeldes. Assustados, centenas deles abandonaram a floresta e buscaram refúgio em cidades da província de Ituri, denunciando a matança.

Os pigmeus formam um dos grupos étnicos mais antigos da África Central. Só no Congo, ex-Zaire, são cerca de 140.000. Eles chamam a atenção pela estatura média de 1,35 metro para os adultos, embora nem todos sejam baixos. As crianças nascem com tamanho normal. Na adolescência, manifesta-se uma deficiência hormonal que interrompe o crescimento. Com a guerra civil no Congo, os pigmeus, que costumam ser temidos e ao mesmo tempo discriminados por outras tribos, ficaram