Cidadão Kane
O diretor Orson Welles, que também protagoniza o filme, mostra sua habilidade ao adentrar o espectador sutilmente na mansão de Kane, e ao confundir uma casa na neve com o peso de papel que o protagonista deixará espatifar no chão, após pronunciar sua última palavra, Rosebud. A partir daí, a busca pelo significado dessa expressão leva um repórter a descobrir as diversas facetas do influente Kane. No auge de sua fortuna, antes da crise de 29, o barão da imprensa possuía 37 jornais espalhados pelo território americano, uma rede de rádio, fábricas de papel, prédios e a terceira maior mina de ouro do mundo.
Com o objetivo de destrinchar a vida de Kane e de descobrir sua verdadeira personalidade, o repórter entrevista as pessoas mais próximas do protagonista, como o secretário Bernstein, melhor amigo Leland, a segunda esposa, Susan Alexander, e o mordomo da mansão, além de consultar o diário pessoal de Thatcher, o falecido tutor e administrador dos bens de Kane. A cada depoimento segue um flashback que resgata os mesmos episódios representativos da vida do voraz magnata da imprensa, do amigo soberbo, do chefe entusiasta e do marido prepotente. Porém, esses episódios são contados sob diferentes pontos de vista, de forma a complementar a história. Através dos flashbacks, o diretor constrói e sustenta a narrativa de forma inovadora.
A originalidade da obra de Welles vai além da narrativa não-linear e do uso do tempo não cronológico para encadear a história, o diretor destacou não só o primeiro plano, mas também o que acontecia no segundo plano, enriquecendo a história.