Choque de civilização
Por Bernardo Kocher (Departamento de História, UFF)
1 - Introdução
Toda a nossa ótica cotidiana das relações internacionais foi profundamente alterada nos últimos dez anos por dois episódios: o fim da URSS, e da alternativa socialista nela contida, al m dos atos terroristas de 11 de setembro de 2001 que, na seqüência, produziram a guerra promovida contra o Afeganistão.
Estas situações apresentam-se de forma aparentemente desconexa aos olhos dos espectadores, uma vez que intrinsecamente são fatos qualitativamente diferentes. Mas um olhar mais rigoroso sobre as circunstâncias em que ocorreram revelará uma continuidade nos dois episódios. Em 1991 surgiu um cenário de desorganização na forma como os países se associavam, já que a Guerra Fria possuía uma firme identidade no alinhamento destes através da polarização: de um lado o bloco capitalista, de outro o comunista. Os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 introduziram uma fortíssima pressão pela anulação desta perda de referencial. Foi criada uma aglutinação, não totalmente definida sob a bandeira de “luta contra o terrorismo”, dos países em torno dos Estados Unidos da América e mais alguns aliados, notadamente a Inglaterra.
O que assistimos hoje não é uma situação totalmente nova. Choques frontais entre as forças que efetivaram a derrubada das torres do World Trade Center e o atentado ao prédio do Pentágono e as que lançaram centenas de bombas guiadas eletronicamente sobre o território afegão existem desde pelo menos o fim da 2a. Guerra Mundial. Podemos lembrar como exemplo de fatos correlatos ao que estamos vivendo a Crise do Canal do Suez (1956), a Guerra de independência da Argélia (1954-1962), o seqüestro e morte dos atletas israelenses nas Olimpíadas de Munique (1972), o Choque do Petróleo (1973), o seqüestro na embaixada norte-americana no Irã