Chapeuzinho
LOBOS E CAPUZES VERMELHOS
“Quanto mais doce a língua, mais afiados os dentes.”
Charles Perrault
Era uma vez uma garotinha que foi visitar a sua Vovó. O nome dessa garotinha era Chapeuzinho Vermelho e, mais tarde, ela se tornaria protagonista de um famoso conto de fadas que teve várias versões, umas contadas oralmente, outras escritas (a partir daquelas versões orais) — por escritores tão badalados como os Irmãos Grimm e Charles Perrault e outros nem tão famosos assim.
Mas vamos falar de Chapeuzinho Vermelho. Aquela mesma. Vestido curto, olhos claros, rosto inocente e lindo, um capuz e uma capa vermelhos. Ela carregava uma cesta cheia que ia levar para a casa da Vovó.
O Lobo a viu no instante em que ela entrou no bosque. Ele a desejou mais do que tudo e, com seu desejo, ele condenou-se.
Durante um tempo, o Lobo apenas acompanhou-a, sorrateiramente por entre a densa vegetação, os olhos amarelos faiscando, o pelo eriçado, o desejo aumentando.
Então, ele a abordou; não bruscamente como seria de se esperar, mas suavemente.
— Olá, linda garotinha — disse o Lobo.
— Olá — respondeu ela.
— Não sente medo, andando sozinha pelo bosque, garotinha?
— Por que sentiria? E meu nome não é garotinha, é Chapeuzinho Vermelho.
— Um nome apropriado.
— Isso não importa. Nomes nem sempre são apropriados, são apenas nomes. Agora tenho que ir.
— Por que a pressa?
— Vou para a casa da Vovó. Tenho que levar essa cesta para ela.
— Mas sua companhia me é agradável. Gostaria de conversar mais com a senhorita.
Chapeuzinho Vermelho olhou-o demoradamente, de um modo que deixou o Lobo inquieto. Chapeuzinho passou a língua pelos lábios e sorriu.
— Muito bem. Mas eu realmente não posso demorar muito. Vovó pode ficar preocupada.
— Sei que ela vai entender, quando você disser com quem estava.
—Sim.
Ela despiu-se do capuz e soltou os cabelos, macios, longos, claros como seus olhos.