Cesário Verde

596 palavras 3 páginas
O dia em que Cesário Verde morreu

Em 1886, Lisboa era uma cidade muito diferente do que tinha sido trinta anos antes. A sua população, trezentos mil habitantes, tinha dobrado. Do campo, haviam chegado milhares, os homens primeiro, para trabalhar como estivadores ou pedreiros, a família depois. Em parte devido à pressão dos recém-chegados, em parte porque o alargamento dos limites urbanos era uma forma de obter novas receitas para o Estado, a cidade alastrava. Ao lado de uma indústria incipiente, visível sobretudo para os lados de Xabregas e Alcatra, a cintura saloia espraiava-se por todo o lado, Mafra, Benfica, Lumiar. Em 1886, já tinham sido introduzidas em Lisboa algumas das inovações que facilitavam a vida urbana: em 1848, tinham aparecido os primeiros candeeiros a gás e, em 1878, haviam sido instalados, no Chiado, seis candeeiros elétricos. Não se pense contudo que esses melhoramentos se propagaram rapidamente. Grande parte das ruas da cidade eram de terra, mal cheirosas e escuras. A muitas das suas vielas e escadinhas, a civilização não chegara. A 18 de Julho, um grupo de habitantes de Alfama pedia insistentemente à Câmara de Lisboa que mandasse regar as ruas do bairro, pois o vento estava a levantar enormes ondas de poeira, que invadiam casas e lojas. Nos bairros antigos, a higiene era deplorável. Com traseiras, pátios e quintais apinhados de galinhas, coelhos e porcos, as casas estavam infestadas de parasitas. Apesar de a recente captação do rio Alviela ter permitido instalar uma rede de distribuição de água ao domicílio, o benefício chegava a poucas casas. (…) Os contrastes entre ricos e pobres eram enormes. É verdade que os milionários portugueses eram patéticos quando comparados com os seus parceiros europeus, mas em face da miséria indígena qualquer ser com o mínimo de sensibilidade se chocaria. No centro da cidade, entre portais e vãos de escada, amontoavam-se cegos, estropiados, crianças abandonadas e velhos paralíticos. Para muitos, os

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