cesário verde
Saíram "próximo ao sol posto", percorrendo "altas ruazinhas", tendo por companhia um "gás armarelado" (a iluminação típica do final do século XIX), "um bico de gás que abria em leque" e a lua que "dava trémulas brancuras", terminando já noite "dormente e esbranquiçada".
Podemos deduzir que o sujeito lírico nutria um sentimento de amor, de atracção, de desejo por esta mulher/criança, típica da cidade. Todo o seu aparato, a "flor" da sua pele, a sua luva, o seu véu atraem-no (perigosamente) como um íman. Esta mulher fatal, "pálida" e "perfumada" é, contudo, uma mulher, uma mulher distante e impassível, provocando uma certa humilhação ao homem que lhe segue os passos.
O sujeito poético não esqueceu as coisas que ela lhe disse ("Não me esqueço das coisas que disseste"), assim como o seu desgosto, ficando "cada vez mais magoado" à medida que erravam por travessas e vielas. Ela não é capaz de amar, é distante e indiferente aos sentimentos do sujeito lírico, por isso, é capaz de sorrir (ironicamente) de tudo o que vê, não conseguindo retribuir o amor que ele sente por ela. No entanto, há que fugir desta lúbrica mulher, deixando de a amar já que ela não o ama ("Nunca mais amarei, já que não amas").
O passeio efectua-se no espaço citadino, espaço privilegiado para a crítica do poeta. Deste modo, a referência à iluminação típica da época ("gás amarelado", "bico de gás que abria em leque"), às "ruazinhas" e "cidadezinha" (diminutivos irónicos, sarcásticos), às vizinhas que "às janelas palravam" (verbo expressivo), aos "cemitérios ricos, e o cipreste / Que vive de gorduras e de mortes!" (devido à grande quantidade de mortos, vítimas da peste que assolou a cidade de Lisboa, no final do século XIX), assim como a indiferença desta mulher citadina (que vive numa "gaiola" de um 3.º andar) são exemplos de manifestação crítica em relação ao espaço