Central do brasil
Artigo
Central do Brasil como interpretação do país Adriana Telles dritelles@yahoo.com.br Mestre e Doutoranda pelo Instituto de Letras da UFBA. Professora do Curso de Cinema e Vídeo da FTC.
Os muitos livros que temos e que envolvem, de maneira descritiva, ensaística ou ficcional, o território chamado Brasil e o povo chamado brasileiro, sempre serviram a nós de farol (e não de espelho, coom quer uma teoria mimética apegada à relação estreita entre realidade e discurso).
Silviano Santiago, Introdução a Intérpretes do Brasil
Sinopse Dora é uma professora primária aposentada que complementa a renda como camelô, na Central do Brasil. Como mercadoria, vende o único bem que possui: saber ler e escrever. Por R$1,00, escreve cartas ditadas por pessoas analfabetas, que desejam enviar notícias a parentes distantes. Ana, uma de suas clientes, vem junto com o filho de nove anos, Josué, ditar uma carta para Jesus, pai do garoto, que não o conhece. Insatisfeita com a primeira carta, Ana retorna à estação e, ao sair, é atropelada, deixando Josué abandonado, sem pai nem mãe, na imensidão da Central do Brasil. Dora acaba acolhendo o menino e, por conta de uma série de eventos inesperados, segue com ele para o interior do Nordeste, à procura de Jesus.
Comentário Crítico
Uma professora primária aposentada e trambiqueira, um garoto órfão, um caminhoneiro evangélico; um atropelamento sem nenhuma punição, tráfico e execução sumária de menores, suborno; a comunhão na pobreza, a resignação diante do sofrimento, a redenção pela fé – tudo isso está em Central do Brasil (1998), terceiro longa-metragem do diretor Walter Salles, filme que tem sido tomado, não raras vezes, como uma espécie de síntese da identidade nacional. De fato, se a identidade nacional pudesse ser sintetizada em uma história de mais ou menos duas horas de duração, talvez Central do Brasil pudesse simbolizá-la. Nem tanto pela fábula que conta,