Cartola

1783 palavras 8 páginas
A história é famosa. Numa noite de meados dos anos 1950, o jornalista Sérgio Porto, que também assinava como Stanislaw Ponte Preta, entrou em um bar em Ipanema para comprar cigarros. Levou um susto ao dar de cara com uma lenda do samba que acreditava já ter morrido. Debruçado no balcão estava Cartola, ilustre compositor que desaparecera do meio musical havia muitos anos. Sérgio Porto teve a imediata consciência de que aquela era uma descoberta histórica – afinal, ele era sobrinho de Lúcio Rangel, o jornalista que tinha apelidado Cartola de “Divino”.
A trajetória do poeta da Mangueira é repleta de episódios como este. Entre períodos de ostracismo e de sucesso, sua vida ilustra a história do samba no Brasil. E com um final feliz.
O menino Angenor de Oliveira nasceu no dia 11 de outubro de 1908 no Catete, Zona Sul do Rio de Janeiro, e até os 11 anos teve uma infância confortável no bairro vizinho, Laranjeiras. Seu avô era cozinheiro do então vice-presidente Nilo Peçanha (1897-1924). O pai do futuro sambista, Sebastião de Oliveira, tocava cavaquinho, e sua mãe, Aída de Oliveira Gomes, era uma dedicada foliã. No carnaval, a família saía no Rancho dos Arrepiados, que desfilava no bairro. Suas cores: verde e rosa.
Com a morte do avô em 1919, os pais de Cartola foram em busca de um lugar mais barato para viver com seus sete filhos. Mudaram-se para o Morro da Mangueira, na Zona Norte, que na época não tinha mais do que cinqüenta barracos, indo morar no “Buraco Quente”, travessa cujo nome oficial é Saião Lobato, onde os sambistas se reuniam para cantar nos botequins. Ali Cartola começou a conviver intensamente com o universo da cultura negra do morro, participando das rodas de samba e de batuque, um jogo de pernadas praticado pelos bambas e valentes.
Logo tornou-se grande amigo de Carlos Cachaça (1902-1999), que viria a ser seu principal parceiro. Como era mais novo, Cartola o seguia pelos becos e vielas da Mangueira, desbravando seus mistérios e segredos. O apelido que

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