Carnavais Herois e Malandros
Roberto Damatta
Existem possibilidades para uma hierarquização contínua e múltipla de todas as posições no sistema, mesmo quando são radicalmente diferenciadas ou formalmente idênticas;
Há uma diferenciação contínua e sistêmica dos iguais;
Sempre que se faz uma análise do sistema social brasileiro, toma-se exclusivamente o fenômeno da diferenciação econômica, deixando de lado todos os outros eixos classificatórios que permitem reorientar a conduta social (e política), possibilitando a identificação entre o dominador e o dominado;
Resumindo, temos a atitude hierarquizante que diferencia os iguais;
Normalmente, todos jogam com todas as suas identidades, ou seja, com todos os eixos classificatórios possíveis, pois quem tem mais identidades e eixos classificatórios para utilizar é certamente mais “rico” e tem “mais prestígio”, ficando mais difícil de ser classificado. Num sistema com esse tipo de dinamismo, não há dúvidas de que existem obstáculos muito grandes na individualização das classes sócias, entrecortadas pelas suas possibilidades de múltipla interação e classificação social em eixos variados, já que ninguém se fecha em torno de uma só dimensão classificatória. Se o critério econômico é determinante do padrão de vida, não é de modo algum determinante das relações pessoais (e morais). É, pois, muito mais fácil a identificação com o superior do que com o igual, geralmente cercado pelos medos da inveja e da competição, o que dificulta a formação de éticas horizontais.
O “sabe com quem está falando?” é uma recusa exaltada do “não-saber”, já que impede que o interlocutor deixe de saber om quem está interagindo.
Ninguém no Brasil diz “não sei” para expor sua ignorância. “Temos horror de parecer incultos” Érico Verissimo.
Somos socializados (na família, na escola) aprendendo a não fazer muitas perguntas. Seja porque isso é indelicado, seja porque é considerado um traço agressivo que somente deve ser utilizado quando