Capítulo "o futuro da democracia" - norberto bobbio
1. PREMISSA NÃO-SOLICITADA
Bobbio é convidado a apresentar uma comunicação sobre o futuro da democracia, contudo considera que dispor sobre o tema é sob todos os aspectos insidioso. “O ofício do profeta é perigoso”. A dificuldade de conhecer o futuro é influenciada pelo fato de que as pessoas projetam no futuro os próprios anseios e inquietações, enquanto que o rumo da história segue seu curso indiferente as preocupações humanas, um curso aliás que é formado por milhões de pequenos atos humanos, que nenhuma mente, jamais esteve em condições de aprender numa visão de conjunto que tenha sido convincente. É por isso que as previsões feitas pelos grandes pensadores sobre o curso do mundo, acabaram revelando-se quase sempre erradas. Para Bobbio, se lhe perguntassem qual o porvir da democracia, ele responderia que não sabe Seu objetivo nesta comunicação é simplesmente fazer algumas observações sobre o estado atual dos regimes democráticos e tentar um cuidadoso prognóstico sobre o seu futuro.
2. UMA DEFINIÇÃO MÍNIMA DE DEMOCRACIA
Segundo Bobbio, a única forma de se chegar a um acordo ao tratar da democracia é entendê-la como contraposta a todas as formas de governo autocrático e considerá-la caracterizada por um conjunto de regras que estabelecem quem está autorizado a tomar decisões coletivas e com quais procedimentos. Todo grupo social está obrigado a tomar decisões vinculatórias para todos os seus membros com o intuito de prover a própria sobrevivência. Contudo, essas decisões do grupo são tomadas por indivíduos e para que ela seja aceita como a decisão coletiva do grupo é preciso que estejam baseadas em regras sobre quais indivíduos estão autorizados a tomar decisões vinculatórias e através de quais procedimentos. No que tange ao sujeitos que estão autorizados a colaborar com as decisões coletivas, o regime democrático é caracterizado por atribuir este poder a um número elevado de indivíduos. No