Capa Revista
N uma mata cerrada a diferença do dia para a noite são os animais; no resto tudo é escuridão graduada desde o cinzento carregado até ao preto tinta-da-china, mas sem tira-linhas. As árvores tapam o sol e tapam a lua, mais qual? De dia o silêncio assusta; de noite, os uivos, os grasnidos, os piares assustam também. Será que silêncio significa sossego? Bem pelo contrário. Os caludas em tom sussurrado atrofiam os homens fardados.
P
orém isto é quando os militares caminham em patrulha, na chamada bicha de pirilau ou estão alapados numa emboscada, à espera de quem caia nela – ou se safe. Aí o capim desempenha o seu próprio papel, actor mudo, sem caixa de ponto, mas importante. Porém quando segue uma coluna de camiões o caso é bem diverso. O barulho dos motores mata o psiu, alerta para longe da picada. E então, quando se constrói uma nova estrada pisando as marcas dos pés que por ali passaram, nem falar nisso. Buldózeres, cilindros, bidões de asfalto, serras mecânicas, pás, picaretas, martelos hidráulicos…
N ão pode haver silêncio nestes transes. E quando se tem de dormir na picada, no meio da mata, ainda é mais complicado, nada de cigarros, o morrão é um excelente objectivo para eles, um olho aberto, o outro fechado, o brado da sentinela, quem vem lá? O vento no capim, o grito de um macaco, o zumbido de milhões de mosquitos são tudo motivo de suspeição: se são os sacanas estamos fodidos. Então pessoal, ninguém se deixa dormir sem a canhota à mão de semear. A segurança tem de ser tão eficaz quanto seja possível.
E sta é a minha terceira coluna; vou, vamos, a caminho dos Dembos, dizem os conhecedores que é a pior zona do terrorismo(*) de Angola, mais precisamente para o Quibaxe para onde levamos material de guerra, alimentos e até gado vivo para abate. São 48 viaturas civis, interpoladas por outras militares: três “burros de mato”, os Unimog mais pequenos, dois maiores, dois jipes e na frente uma GMC da segunda guerra mundial,