CAMÕES E A VISÃO AMOROSA
1.0 Conceituação: Humanismo e Neoplatonismo na Renascença
Para melhor compreendermos a Visão Amorosa e sua expressão por planos em Camões devemos ir à principal fonte desse retorno aos clássicos: o Humanismo de Petrarca (d.C 1304 - 1374). Este projeto do studia humanitatis, o qual Petrarca foi fundador, propunha uma nova perspectiva na visão do homem medieval. Nepomuceno exemplifica estas duas visões, a escolástica medieval e a humanista, contrapondo a edificação, na Comédia, de Dante (1265 - 1321), com a visão de Satã-Lúcifer, no Paraíso Perdido, de Milton (1608 - 1674), respectivamente. “Em síntese, o projeto medieval permite que o homem compreenda o universo, mas que jamais o questione ou subverta sua ordem fixa, imóvel e hierárquica – e, sobretudo, que essa compreensão parta de um programa racionalista e contemplativo” (NEPOMUCENO, 2008, p. 26, 27). Por isso, o projeto humanista primava à transformação do método racional objetivo (Aristóteles tomista), “para uma visão subjetiva e poética” (Idem, p. 31).
Para que essa visão fosse configurada nos moldes do studia humanitatis, era mister que o sujeito carregasse particularidades sobre si e sobre o mundo em detrimento da História. Assim, Nepomuceno deixa claro que, no caso de Petrarca, a visão biográfica e alegórica da lírica de Dante tornou-se influente, ainda que a ideologia de escrita em italiano, e a base escolástica fossem contrastes com a constituição do projeto daquele. Entretanto, o crítico não descarta que essa “intimidade afetiva” (Idem, p. 34) já aparecesse no Stil Nuovo e nos provençais; ele nos mostra, contudo, que Dante fixou uma forma de “invenção ficcional” do sujeito, para a expressão lírico-subjetiva. Daí o interesse dessa expressão pelos humanistas.
Auerbach nos confirma, acima de tudo, no jovem Alighieri, a unicidade da visão; pois: “para Dante, os acontecimentos são raramente reais ou, até, concebíveis em termos empíricos: são, em geral, visões”