Caminhada pela cidade
Michel de Certeau
O autor trata a cidade, o espaço urbano, como um texto que está o tempo todo se modificando, alterando. O que dá corpo a esse texto são os caminhantes, os pedestres, eles o escreve, porém não percebem, é tudo tão rotineiro, seus símbolos são tão reconhecidos por todos que compõe o espaço, que quase tudo passa despercebidamente, no anonimato, sem grande legibilidade.
" Mas "embaixo" (down), a partir dos limiares onde cessa a visibilidade, vivem os praticantes ordinários da cidade. Forma elementar dessa esperiência, eles são caminhantes, pedestres, Wandersmanner, cujo corpo obedece aos cheios e vazios de um "texto" urbano que escrevem sem poder lê-lo. Esses praticantes jogam com espaços que não se vêem; têm dele um conhecimento tão cego como no corpo-a-corpo amoroso. Os caminhos que se respondem nesse entrelaçamento, poesias ignoradas de que cada corpo é um elemento assinado por muitos outros, escapam a legibilidade. Tudo se passa como se uma espécie de cegueira caracterizasse as práticas organizadoras da cidade habitada. As redes dessas escrituras avançando e entrecruzando-se compõem uma história múltipla, sem autor nem espectador, formada em fragmentos de trajetórias e em alterações de espaços: com relação às representações, ela permanece cotidianamente, indefinidamente, outra." (pag. 171)
O autor diz que a "cidade" para o discurso utópico e urbanístico é definida pela possibilidade de uma tríplice operação: 1- a produção de um espaço próprio; 2- estabelecer um não tempo, ou mais sistemas sincrônicos; 3- a criação de um sujeito universal e anônimo que é a própria cidade.
Uma questão central é que as práticas relacionadas ao espaço estão muito ligadas as questões econômicas para aqueles que a organizam. Isso faz esquecer as possibilidades do espaço, criando cada vez mais espaços não pensados, ou não lugares. O autor fala dos políticos que assumem um discurso urbanístico de organização e estruturação da cidade,