Calotas polares
E tinham bom motivo para isso: depois de três verões de trabalho, estavam comemorando a retirada final de uma barra de gelo de nada menos que 3 029 metros de comprimento e 10 centímetros de diâmetro. Frágil como uma pilha de porcelana, a barra estende-se desde a superfície até as profundas rochas que o gelo recobre, e tem o valor de uma fantástica biblioteca — criada muito antes de o primeiro homem ter imprimido suas pegadas no planeta. Ela representa uma verdadeira “memória da Terra”, como diz o glaciologista Claude Lorius, presidente do Instituto Polar Francês e membro do projeto GRIP (Greenland Ice-core Project), que reúne oito países europeus.
As calotas polares tornam-se um gigantesco banco de dados porque se formam gradualmente, quando sucessivas camadas de neve se depositam sobre as mais antigas e não se derretem nunca. Portanto, como os cristais de gelo guardam resíduos do ar, dão um testemunho fiel dos mais variados acontecimentos do passado remoto — sejam possíveis eras glaciais, erupções vulcânicas, incêndios de floresta, densidade da radiação cósmica, variações de temperatura e efeito estufa. Na barra de gelo colhida pelo GRIP — a mais antiga já extraída integralmente das calotas polares — estava codificada uma informação surpreendente e