brotto
Enquanto esperava a hora da luta, Milo amarrou um cordão na testa e começou a fazer força com os punhos cerrados. Seu rosto ficou vermelho e trêmulo e as veias da cabeça apareceram. Até que o cordão arrebentou. A multidão, eufórica, começou a berrar sob o sol infernal de agosto, auge do verão grego. Já com mais de 40 anos, Milo conservava a força descomunal que lhe dera cinco títulos olímpicos – em 532, 528, 524, 520 e 516 a.C. Sem contar os jogos de 540 a.C., que ganhou na categoria infantil.
Os torcedores mais empolgados eram os que tinham vindo de Crotona, cidade incrustada na sola da bota italiana. Milo lutava por Crotona. A Grécia não era um país, mas um amontoado de cidades independentes espalhadas por lugares tão distantes quanto Itália, Espanha, Líbia, Egito, Irã e Ucrânia. Todas se reuniam a cada quatro anos em Olímpia .
Em seguida, o hellanodika – ou juiz grego –, enrolado em sua túnica púrpura, interrompeu a brincadeira e convocou os atletas para a skamma, um ringue de areia que ficava no pátio interno de um prédio chamado palaistra. Milo, que muitos acreditavam ser capaz de comer 20 quilos de carne e de beber 9 litros de vinho numa só refeição, chegou confiante. Como todos os atletas, ele estava nu – conta-se que essa tradição começou quando um corredor perdeu as calças em uma prova e tropeçou. À sua frente, um jovem chamado Timotheos esperava o começo do combate, encarando Milo com receio.
Era a final do torneio olímpico de luta. Terminava ali um exaustivo período de preparação. Timotheos e Milo tinham passado dez meses treinando duro para os jogos – uma exigência dos juízes para todos os atletas. O vencedor sairia da skamma coberto de glória. Ao perdedor restaria esperar a olimpíada seguinte.
Quando o hellanodika gritou apite, que quer dizer “já!”, milhares de torcedores vindos a pé, de barco ou nas costas de um burro dos cantos mais distantes do mundo grego começaram a urrar de um jeito que lembrava os mais apaixonados