Brites Afeto E Desigualdade
Jurema Brites**
Resumo
Na realização das tarefas de cuidado e manutenção das famílias de camadas médias no Brasil – desempenhada, na esmagadora maioria das vezes, por mulheres pobres, fora da parentela dos empregadores – assim como nas formas de remuneração e de relacionamento que se desenvolvem entre patrões e empregadas domésticas, reproduz-se um sistema altamente estratificado de gênero, classe e cor. A manutenção desse sistema hierárquico que o serviço doméstico desvela tem sido reforçada, em particular, por uma ambigüidade afetiva entre os empregadores – sobretudo as mulheres e as crianças – e as trabalhadoras domésticas. Ao analisar exemplos tirados de uma pesquisa etnográfica em Vitória
(Espírito Santo), comentaremos como essa ambigüidade se revela como instrumento fundamental de uma didática da distância social. Palavras-chave: Empregadas Domésticas, Famílias de Camadas
Médias, Reprodução Estratificada, Didática da
Distância Social.
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Recebido para publicação em maio de 2007, aceito em agosto de 2007.
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Antropóloga, professora da Universidade Federal de Juiz de Fora, Minas
Gerais. juremagbrites@yahoo.com.br cadernos pagu (29), julho-dezembro de 2007:91-109.
Empregadas domésticas e seus empregadores
Friendship and Inequality:
Gender, Generation and Class
Between Domestic Workers and their Employers
Abstract
In the execution of domestic tasks linked to the care and maintenance of middle-class families in Brazil – an activity performed, in most cases, by lower-income women who are not otherwise related to the employers – as well as in the forms of remuneration and relationships that develop between employers and maids, we witness the reproduction of a highly stratified system of gender, class, and color. The maintenance of the hierarchical system revealed by domestic service has been reinforced, in particular, by emotional ambiguities in the