Bosquejo de língua portuguesa
Mário Ribeiro Caiado
2013
À minha família,em especial ao meu neto Francisco
Aos meus amigos
Língua portuguesa
Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...
Amo-te assim, desconhecida e obscura.
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma, em que da voz materna ouvi: "meu filho!",
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
Olavo Bilac(1865-1918)
“A minha pátria é a língua portuguesa”
Fernando Pessoa (in Livro do Desassossego)
Desde miúdo que me vejo a brincar com palavras.Entendê-las,abri-las,dissecá-las.Saber a sua origem e significado.Também por isso segui filologia,no caso Germânica.Mas a minha língua materna merece todo o carinho e estudo.Não apenas a “oficial”,mas todas as suas variantes – quer as usadas nos Palop quer as regionais,os dialetos,as gírias,os socioletos e o calão.Deste modo tenho dedicado algum tempo e algumas forças à recolha e estudo dessas variações – desde o Mirandum (Mirandês),a nossa segunda língua oficial,com os seus tributários Riodonorês,Guadramilês e Sandinês;o Barranquenho,falado no Alentejo e que mistura português e o espanhol falado da Extremadura e Andaluzia;a Piação dos Ninhou,socioleto de Minde e que hoje é objeto de estudo e ensinado no CAORG(Centro de Artes e Ofícios Roque Gameiro);o Galramento, gíria criada em Molelos por pessoas ligadas à construção civil;o Laínte,de Carrazeda de Ansiães, criado por vendedores de tecidos;o Quadrazenho, inventado pelos contrabandistas de Quadrazais, freguesia do Sabugal, no distrito da Guarda, para não serem entendidos pelas autoridades e desse modo escaparem à prisão ou a