blog de contos
O PROFESSOR ESPADA
Estou aqui numa tremenda solidão, dentro de um quarto e sala minúsculo. Improvisei um terraço com o telhado da vizinha, que quando não se encontra subo nessa lage, para ver melhor o céu do município de Cubatão.
Esse meu prédio tem três andares, é minúsculo até na altura. Moro no primeiro andar, quanto mais perto do chão, melhor. A minha rua é bem agitada, carro que passa, movimento de gente na calçada, ônibus, lotação, carreta, o diabo. Jurei que ia colocar janela antirruído mas a única que fiz até agora foi botar, nas duas orelhas, algodão. No verão essa prática não é recomendada.
- Oi Onório, veio uma voz seca do corredor.
Como me descobriram aqui, em Cubatão? Desde que mudara do norte Paraná nenhuma voz me chamara pelo nome, e essa voz parece feminina.
- Professor Onório, tum tum, continuou a voz.
Resolvi abrir, não tinha olho mágico.Me deparo com uma mulher e uma criança, feios.
- É você mesmo, Onório! Me ajude, me ajude, Onório de Deus, e você precisa de ver esse menino como tem futuro, professor Onório, pois ensine ele a tocar direitinho o cavaco, que no futuro ele vai brilhar.
- Oi, bem...
- Eu mais o Chiquinho vinhemo lá do sertão da Bahia, eu tô que engordei aqui no sul, óia essa barriga, a mulher pegou fôlego, ouvimo foi que só elogio da sua pessoa, calado né Chiquinho, seus aluno famoso.
- É, respondo sem emoção, eu ensinara de fato vários bambas do samba, pagode, até mpb, sorri, mas não tenho tempo para ensinar mais ninguém...mas quem disse que a mala parava quieta?
- E o sinhô mais a filha do prefeito daqui di Cubatão? Tá montado no cascalho, seu pagodêro arretado, "É Ónório, é Onório”, e cantou justamente a marchinha do jingle que eu fizera pra campanha eleitoral do meu sogro, de mesmo nome. Desisti e pedi que entrassem no meu apartamento.O calor estava insuportável, resolvi jogar duro.
- Escuta aqui, todo mundo sabe que as minhas aulas de