Bairro
E a minha rua, perdoem-me as outras ruas vizinhas, é a que melhor paisagem oferece.
Nela montaria uma esplanada maior do que as que já existem, mas no meio da estrada, para contemplar o Tejo e a ponte Vasco da Gama, e no fim da estrada, junto ao estacionamento, mandaria construir um palco versão arena da Grécia antiga para que o teatro tivesse um espaço próprio com obrigação de assistência, ao final da tarde e pela noite dentro, maior que outro qualquer evento já realizado por estas bandas. Ali desfilavam, à vez, os personagens míticos do bairro, desde dos Smurfs aos Vikings sem esquecer os oradores vestidos a rigor que a política impõe. Talvez seis dias por semana, no máximo, falaríamos do amor pelo nosso clube e depois, se tempo sobrasse, pelo amor ao desporto-rei que é quem domina as conversas da minha rua. Mas falaríamos também de política, das artes e da crise. No meu bairro a crise nunca entrou pois nele não há extravagâncias nem grandes espaços comerciais. Nem promoções de loucos apaixonados pelo sindroma do amanhã. Aqui tudo é sereno como as horas que morrem devagar. Hei-de amar as noites e os dias que mergulhar nesta vida sem igual e que se vão perdendo nos tempos