Autopsicografia Texto Informativo
Textos Informativos Complementares
SEQUÊNCIA 1
EXP12 © Porto Editora
Autopsicografia
Consta de três partes o pensamento implícito nesta poesia.
Cada uma das suas quadras representa um conceito. Na primeira se encontra, todavia, a premissa do pensamento extremamente importante contido nas três estrofes.
Sendo um “fingidor”, o poeta não finge, em verdade, a dor que não sentiu, mas, sim, a dor de que teve experiência direta. Assim se afasta qualquer possibilidade de interpretação do conceito de “fingimento” inerente à génese poética de Fernando Pessoa na base de uma integral simulação da dor ou da experiência emocional que se não teve.
O reconhecimento da dor – experiência emocional – como base imprescindível da criação poética está patente, de forma clara, nesta primeira quadra. Mas – e isso se me afigura a essência da estética alquímica de Pessoa – a dor que o poeta realmente sente não é a dor que comparece, ou que deve comparecer, na sua poesia. Adverso por natureza a toda a espontaneidade – e não se confunda repulsa da espontaneidade com elaboração penosa; Fernando Pessoa, não sendo espontâneo, não era laborioso –, o poeta de O Último Sortilégio (uma das suas mais notáveis composições ocultistas) não podia, de forma alguma, considerar poesia a passagem imediata da experiência à arte, da vivência à sua decantação, do impuro emocional ao puro ato intelectual. Por isso, sobre a dor experimentada, exigia a criação de uma dor fingida. Na mesma ordem de ideias, o ator que interpreta o papel de Otelo não deve traduzir, na expressão interpretativa da figura que recria, os sentimentos que porventura experimentou fora do palco suscetíveis de se integrarem na ordem de reações a que a personagem de Shakespeare está sujeita, pois representar – a palavra o está a dizer – é tornar objetiva, materializando-a, a paixão implícita na psicologia da figura que encarna em cena. Assim, o próprio poeta, desde que se propõe escrever sobre uma dor