auto etrato
o sujeito lírico busca um autorretrato dissimulado, evocando o lirismo do vivido e o lirismo da enunciação. Essas aproximações e experiência fotográfica, nesse caso, tornam-se ficção à medida que o sujeito vai se construindo no e pelo poema. Nesse retrato que se traça, ao longo do poema, no entanto, o eu lírico opta por palavras que caracterizam seu desânimo, como “sofrer”, “inúteis”, “morrer” e “dor”. Juntas, essas características, demarcam a subjetividade de um autorretrato que pontua extremos da vida e da morte O leitor, diante dessas confissões e escrita fotográfica ou desse autorretrato ficcional, percebe que “morrer tem uma dor de árvore” e entende que, pela enunciação lírica, a morte assume outras metáforas, para além do sentido denotativo. Além dessas sugestões, o poema reforça traços que demarcam lugares e gestos que realmente compõem dados biográficos do escritor, instigando reflexões lúdicas sobre o limite entre ficção e verdade, entre a poesia e características fotográficas. Ainda nas entrelinhas desse autorretrato, buscam-se registrar, em tom metalinguístico, a publicação de dez livros de poesia, as preferências pela natureza e pela infância, além das bênçãos das garças. Todas essas marcas confluem numa confissão memorialística, fragmentária e aporística que resume seus preceitos autobiográficos: “Me procurei a vinda inteira e não me achei – pelo que fui salvo”.