Auto da barca do inferno
( Tema
O Diabo dialoga com o Companheiro, ordenando-lhe que apronte a barca para a partida. A barca é festivamente embandeirada porque Satanás prevê o transporte de grande número de condenados.
Estão presentes duas barcas, capitaneadas pelo Diabo e pelo Anjo, que vão desempenhar, simultaneamente, em todo o auto, a função de advogados de acusação e juizes.
( Cenário cais dois batéis ancorados.
O primeiro momento da ação do auto é um interessante diálogo entre o Diabo e o seu Companheiro, em que o primeiro se revela um experiente barqueiro.
Ancorados no rio da Morte, junto à praia do Purgatório, estão dois batéis. Num deles – o do Inferno – vai a grande azáfama de o preparar com mais espaço e maior garridice para receber os passageiros. No outro – o do Paraíso – o movimento é nulo.
Esta é uma cena de grande movimento e de importância linguística pelos termos técnicos de marinharia.
Logo no início, o Diabo, com o seu irrequietismo, marca o contraste com o Anjo, todo passividade. Repare-se no pormenor de o Diabo, em duas vezes que se dirige ao Companheiro, empregar a expressão «em má hora» (aramá e muitieramá), usando todavia o Companheiro, em resposta, «em boa hora» (em bonora), mais respeitadora.
( Qual o assunto do diálogo? A preparação da barca do Inferno.
( O Diabo revela grande euforia
porque espera muitos passageiros. Como tal, manda o Companheiro preparar a barca, pois vai haver muita festa.
Esta ideia dos enfeites mostra a importância que se dá aos bens materiais, pois esses irão encantar os passageiros. Aliás, cada personagem irá aparecer com objectos, para realçar a sua importância. O materialismo da sociedade liga-se, desta forma, às ideias do Diabo.
( Como se manifesta esse estado de espírito ( euforia) do Diabo?
( dá muitas ordens -frases imperativas; ( pontuação - aparecem muitas frases exclamativas