Auto Da Barca Do Inferno
GIL VICENTE
AUTO DA
BARCA DO INFERNO
Introdução, preparação do texto e notas
FRANCISCO ACHCAR
4ª edição, revista e aumentada
CERED
São Paulo
1999
Preparação do texto e diagramação: Francisco Achcar
Digitação: Francisco Achcar e Claudia de Carvalho Cavicchia
Revisão: Claudia de Carvalho Cavicchia
ÍNDICE
INTRODUÇÃO 7
VIDA E ÉPOCA 10
OBRA 12
Alegorias, quadros e narrativas
Ideologia vicentina 16
Linguagem e poesia vicentinas
13
17
Sobre o texto e as notas desta edição
Programa e orientação de leitura
AUTO DA BARCA DO INFERNO
QUESTÕES 73
RESPOSTAS 77
5
22
23
25
INTRODUÇÃO
Francisco Achcar
G
il Vicente é um caso raro, talvez único, na literatura de língua portuguesa: um autor sobre cuja importância os estudiosos estrangeiros são tão entusiásticos quanto (ou às vezes até mais do que) os próprios portugueses — e não porque os portugueses não lhe atribuam imenso valor! O maior obstáculo que impede um mais amplo reconhecimento da grandeza do poeta reside no desconhecimento da língua portuguesa, tanto em âmbito internacional quanto, paradoxalmente, em contextos nacionais (considerados os diversos países de língua portuguesa). Quanto à situação internacional, um notável crítico e filólogo italiano, Gianfranco Contini, afirma que apenas o “fato de a portuguesa [...] ser a cinderela das literaturas impediu o reconhecimento, em plano europeu, de que este autêntico fundador do teatro ibérico é, em absoluto, uma das personalidades mais poéticas e livres da época do Renascimento”. Afastando-se da tendência portuguesa (e também brasileira) de conceder primazia inquestionável a Camões, Contini considera Gil Vicente “talvez o mais valoroso expoente” da literatura de Portugal.1
Juízo semelhante é o do austríaco, radicado no Brasil, Otto Maria
Carpeaux. Em sua História da Literatura Ocidental, Carpeaux sustenta uma opinião polêmica: “considerando-se que o sentimento
1.
Gil Vicente, Trilogia delle Barche, tradução de Gianfranco Contini.