Auto da barca do inferno
«Os Lusíadas» é uma narrativa épica, escrita por Luís de Camões e publicada em 1572. É uma obra de grande dimensão, composta para celebrar (cantar) a Descoberta do Caminho Marítimo para a Índia por Vasco da Gama (entre 1497 e 1498) e de um modo geral a acção heróica do povo português nos Descobrimentos e Expansão. Trata-se de um texto de assunto solene e elevado, uma vez que pretende falar do herói colectivo e plural, que é o povo português. Antes de Camões, a necessidade de se fazer construir em Literatura algo de semelhante aos monumentos arquitectónicos (como o imponente Mosteiro dos Jerónimos) já se fazia sentir. Garcia de Resende e António Ferreira haviam nos seus versos tocado o assunto, mas declararam-se incapazes de tomar mão a tal empreendimento. Assim, Luís de Camões cometeu a proeza de superar todos os poetas do seu tempo e escreveu a mais universal e sublime obra literária em língua portuguesa. Influenciado pelo gosto de imitação dos modelos clássicos, mas também pelo nascente espírito humanista do século XVI e pelo empolgamento europeu provocado pela descoberta de novos mundos, novos povos e civilizações (verdadeiro palco de cosmopolitismo), Luís de Camões encontra na epopeia o género literário mais apropriado para comemorar esse tempo de fervilhantes acontecimentos e nele o precioso contributo português. São fontes obrigatórias de «Os Lusíadas» as epopeias homéricas (Ilíada e Odisseia, do século VIII a.C.) e a epopeia de Virgílio (Eneida, do século I a.C.). Nelas inspirado (em particular na última), «Os Lusíadas» é mais do que um relato heróico ficcional. Na verdade, Camões considera o seu escrito superior àquelas narrativas antigas[1], já que optou por celebrar os feitos de um herói colectivo (todo o povo português, raça de aventureiros e de homens destemidos) e ao mesmo tempo histórico e verdadeiro, o que não sucedia com os poemas de Homero e Virgílio (os quais narram aventuras fantasiadas sobre