Auto da Barca do Inferno
I – Argumento da Obra
O argumento da obra «Auto da Barca do Inferno» é o julgamento das almas humanas na hora da morte. Como lugar deste julgamento é escolhido um profundo braço de mar (a água como símbolo da passagem da vida para a morte e da purificação) onde estão dois arrais: um conduz a Barca da Glória (o Anjo), outro a Barca do Inferno (o Diabo). Por este porto vão passar diversas almas que terão que enfrentar um tribunal, esgrimir argumentos de defesa constituindo-se como advogados em causa própria, e enfrentar os argumentos do Anjo e o Diabo que surgem como advogados de acusação.
Através da metáfora do tribunal, Gil Vicente põe a nu os vícios das diversas ordens sociais e denuncia a «podridão» da sociedade (Ridendo castigat mores - rindo, corrigem-se os costumes).
Assim, a grande maioria das almas são condenadas ao Inferno. Joane (o parvo) fica no cais porque não é responsável pelos seus actos e o Judeu vai a reboque da barca porque, não se identificando com a religião católica, não tenta embarcar na Barca da Glória e é recusado pelo Diabo.
Apenas os quatro cavaleiros vão embarcar directamente na barca da Glória porque se entregam em vida aos ideais do Cristianismo (luta contra os mouros).
Ao definir este percurso para cada uma das almas, Gil Vicente tinha por certo o objectivo de fazer desta obra alegórica um auto de moralidade, através do qual o bem fosse compensado e o mal castigado.
II – Personagens
O Anjo e o Diabo são personagens alegóricas, que representam respectivamente o bem e o mal. Ao longo de toda a obra estas personagens são como que os “juízes” do julgamento das almas tendo em conta os seus pecados e a vida na terra.
Todas as restantes personagens são personagens-tipo.
Fidalgo:
Representa a nobreza e critica aqueles que só pensam no seu estatuto social. Esta personagem depara-se com o diabo, vindo carregado com a sua cadeira de espaldar, que representa os bens materiais e o poder, o