Aula De 11 De Fevereiro De 1976
A narrativa das origens. - O mito troiano. - A hereditariedade da França. - "Franco-Gallia. " - A invasão, a história e o direito público. - O dualismo nacional. - O saber do principe. - "Estado da França" de Boulainvi/liers. - O cartório, a repartição pública e o saber da nobreza. - Um novo sujeito da história. - História e constituição.
Eu vou começar com uma narrativa que circulou na França desde o início da Idade Média, ou quase, até o Renascimento ainda, ou seja, a história dos franceses que descendiam dos francos, e dos francos que eram, por sua vez, troianos que, conduzidos pelo rei Franco, filho de Príamo, haviam deixado Tróia no momento do incêndio da cidade, se refugiado inicialmente nas margens do Danúbio, depois na Germânia nas margens do Reno, e finalmente encontrado, ou melhor, fundado na .f..rança a sua pátria. Essa narrativa, não quero tentar saber o que ela podia significar na Idade Média, ou o papel que podia ter essa lenda, tanto do périplo quanto da fundação da pátria. Quero simplesmente interrogar-me sobre este ponto: é surpreendente, afinal, que essa narrativa possa ter sido retomada, possa ter continuado a circular numa época como o Renascimentol. Não, em absolu to, por causa do caráter fantástico das dinastias ou dos fatos históricos aos quais ela se referia, mas, antes, porque nessa lenda, no fundo, há uma elisão completa de Roma e da Gália, da Gália a princípio inimiga de Roma, da Gália invasora da Itália e sitiadora de Roma; elisão também da Gália enquanto colônia romana, elisão de César e da Roma imperial. E elisão, por conseguinte, de toda uma literatura romana que era, porém, perfeitamente conhecida na época.
Eu creio que se pode compreender a elisão de Roma dessa narrativa troiana somente se se renuncia a considerar essa narrativa das origens como uma espécie de tentativa de história que ainda estaria envolvida com velhas crenças. Parece-me, ao contrário, que é um discurso que tem uma fimção