Atps
Guacira Lopes Louro *
Resumo: Gênero e sexualidade são construídos através de inúmeras aprendizagens e práticas, empreendidas por um conjunto inesgotável de instâncias sociais e culturais, de modo explícito ou dissimulado, num processo sempre inacabado. Na contemporaneidade, essas instâncias multiplicaram-se e seus ditames são, muitas vezes, distintos. Nesse embate cultural, torna-se necessário observar os modos como se constrói e se reconstrói a posição da normalidade e a posição da diferença, e os significados que lhes são atribuídos.
Há mais de cinqüenta anos, Simone de Beauvoir sacudiu a poeira dos meios intelectuais com a frase Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. A expressão causou impacto e ganhou o mundo. Mulheres das mais diferentes posições, militantes e estudiosas passaram a repeti-la para indicar que seu modo de ser e de estar no mundo não resultava de um ato único, inaugural, mas que, em vez disso, constituía-se numa construção. Fazer-se mulher dependia das marcas, dos gestos, dos comportamentos, das preferências e dos desgostos que lhes eram ensinados e reiterados, cotidianamente, conforme normas e valores de uma dada cultura.
A mulher é o novo homem?
No Brasil, as mulheres representam 60% dos estudantes universitários. Ao mesmo tempo, ocupam mais postos de chefia do que nunca. Nos Estados Unidos, a maioria dos cargos de gerência já pertence à mulherada – que, por outro lado, anda com altos índices de doenças tipicamente masculinas, como hipertensão. Por tudo isso, é o caso de perguntar: A mulher é o novo homem?
Mas, mesmo olhando com otimismo para os avanços, é curioso notar como a mídia gosta de falar do preço que as mulheres pagam por suas conquistas: “Conquistaram o mercado de trabalho e pagam o preço de continuarem solteiras”, “priorizaram a carreira e pagam o preço de não terem se tornado mães”. Pagar o preço, nessa fala, pressupõe que exista um desejo único que une todas as mulheres,