A NegraTarsila do Amaral pintou a tela “A Negra” quando estudava em Paris. A artista buscou mostrar em sua arte um ambiente tipicamente tropical do Brasil, fato este facilmente identificável através da gigantesca folha da bananeira em diagonal semi curvada que se entrelaça a figura da negra. A figura sentada, de braços cruzados e pernas grossas e toscas,tem uma aparência imóvel, como de uma imagem estática que a memória traz de volta do passado. O olhar triste parece invocar a tristeza, a melancolia e o pessimismo; fatores dos quais muitos negros vieram a morrer. Na época recebia o nome de Banzo; hoje é a conhecida “depressão”. Em A Negra temos elementos cubistas no fundo da tela e ela também é considerada antecessora da Antropofagia na pintura de Tarsila. Essa negra de seios grandes, fez parte da infância de Tarsila, pois seu pai era um grande fazendeiro, e as negras, geralmente filhas de escravos, eram as amas-secas, espécies de babás que cuidavam das crianças. Partindo-se dessa relação texto e contexto, a tela ―A Negra, de Tarsila do Amaral, está associada ao fato de que no período da escravidão, as negras africanas eram exploradas de todas as formas, inclusive como “amas de leite” dos filhos dos patrões. Na interpretação da tela de Tarsila, através das pernas cruzadas da negra é possível depreender que a mesma possa estar protegendo-se contra a agressão física de seus senhores, contra o abuso sexual que sofria dentro da casa grande, fechando o sexo. Era comum o senhor engravidarem as mucamas na mesma época que engravidavam suas esposas, para que estas amamentassem seus filhos, portanto a pintura em si denuncia a condição dos negros na sociedade da época, o enorme seio sugere ser a mulher "ama-de-leite”, que muitas vezes tinha o próprio filho vendido para que pudesse amamentar o filho e/ou filha de seu dono; as pernas cruzadas sugerem a mulher se protegendo, fechada ao sexo, visto que as "mucamas” muitas vezes tinham de "servir" aos seus "donos".