Assim nasceu deus
Os homens são, por natureza, gananciosos, ciumentos, combativos e eróticos, como persuadi-los a se comportar? Com o onipresente cassetete da polícia? É um método brutal, dispêndios e irritante. Há um meio melhor, que é o de dar às exigências morais da comunidade a sanção de uma autoridade sobrenatural. Temos de ter uma religião.
Uma nação não pode ser forte, a menos que acredite em uma força divina, um Deus. Uma simples força cósmica, uma causa primeira, ou élan vital, que não seja uma pessoa, mal poderia inspirar esperança, devoção ou sacrifícios; não poderia oferecer conforto aos corações aflitos, nem coragem às almas em conflitos. Mas um Deus vivo pode fazer tudo isso e incitar ou obrigar, pelo medo, o individualista a moderar um pouco a sua ganância, a controlar um pouco a sua paixão. Ainda mais se a crença em Deus se acrescentar a crença na imortalidade pessoal: a esperança de uma outra vida nos dá coragem para enfrentar a nossa morte e suportar a morte de nossos entes queridos; estaremos duplamente armados se lutarmos com fé.
Admite-se que nenhuma das crenças pode ser demonstrada, que Deus pode, afinal de contas, ser apenas o ideal personificado do nosso amor e da nossa esperança, e que a alma é como a música da lira e morre com instrumento que lhe deu forma. No entanto, sem dúvida que não nos fará mal algum o fato de acreditarmos, e é possível que faça um bem incalculável a nós e a nossos