As revoluções russas
Para compreendermos o processo sócio-político que desembocou nos movimentos revolucionários de 1917 é necessário analisar a conjuntura do período, percebendo os fatores constituintes de uma realidade que influenciou todo o debate político que se desenvolveu ao longo do século XX. O império russo, nos anos iniciais do século XX, ainda encontrava-se submetido à autoridade política de uma dinastia tricentenária: os Romanov. Ainda estruturado nos pilares das concepções absolutistas do Antigo Regime, o poder tzarista apoiava-se na base rural da sociedade, base esta constituída pelo poder dos grandes latifundiários e pela submissão camponesa aos poderes políticos e econômicos de tais elites. Baixos níveis de produtividade, altas taxas de exploração, miséria e fomes periódicas: a realidade do Antigo Regime sobrevivendo à modernidade das transformações efetivadas pelo capitalismo. Além desses aspectos, é necessário considerar os valores religiosos que contribuíam para a cristalização de uma ordem sócio-política muito próxima ao feudalismo. A figura do tzar, além de ser considerada como um representante de Deus na Terra, era venerada pelos camponeses como o chefe supremo e todo-poderoso do país, a quem se devia cega obediência, a quem se devia filial reverência. Desde finais do século XIX, a Rússia havia se tornado um império multiétnico e multilingüístico, graças à expansão política e militar suscitada pelo próprio regime em direção tanto ao ocidente como ao oriente. Ao ocidente, capturou-se territórios poloneses e bálticos. Logo após, a Finlândia também foi anexada. Ao oriente, capturou-se as vastidões territoriais da Sibéria e do Cáucaso. Além destes territórios, as forças armadas russas rumaram em direção à China, arrendando a utilização de um porto comercial denominado Port Arthur. Da mesma forma que nos aspectos político-militares, o regime russo suscitou um movimento profundamente subversivo: a modernização industrial, de tipo