As relações de produção em gabriela, cravo e canela: uma questão de gênero.
Luciana Oliveira
Meu sonho quer apenas o tamanho da minha alma. – exato, luminoso e simples como um anel.
CECÍLIA MEIRELES
O romance Gabriela, Cravo e Canela, de Jorge Amado, apresenta um painel variado de personagens femininas: esposas e filhas de coronéis, prostitutas, mulheres das classes populares, além da personagem Gabriela, título do romance. Tal painel oferece a possibilidade de se analisar como são construídas discursivamente as personagens femininas, observando-se as relações econômicas desenvolvidas pelas mulheres. Segundo Elódia Xavier o mundo ‘feminino’ é um espaço fechado, obscuro e claro ao mesmo tempo, que exige cuidados e retira sua vitalidade da seiva secreta do coração da mulher”(l998 p. 9), Tal espaço fechado é estabelecido por um discurso que se caracteriza, principalmente. por considerar a mulher inferior ao homem.
Para compreendermos melhor a questão do discurso machista e do discurso feminista torna-se necessário levar em conta que o conceito de gênero aqui trabalhado não se refere ao sexo, pois este está ligado à anatomia, mas trata-se da análise do comportamento de homens e mulheres em determinada época e local, ou seja, trata-se de uma construção cultural dos gêneros.
A sociedade ilheense da primeira metade do século XX vive conflitos resultantes das transformações econômico-sócio-culturais porque passa. Nesse contexto, as atividades femininas das classes mais abastadas restringiam-se ao lar: eram treinadas para desempenhar o papel de mãe e dedicar-se às chamadas “prendas domésticas”, orientar os filhos, cuidar ou mandar cuidar da cozinha, costurar e bordar Este sociedade é mostrada em Gabriela, Cravo e Canela através das vozes de seu narrador e seus personagens. “ À mulher não foi permitido construir sua própria identidade restrita ao espaço doméstico, como mera coadjuvante do homem, a ela não foi permitido inscrever-se enquanto