As fases de Carlos Drummond de Andrade
1ª fase: Eu maior que o mundo — marcada pela poesia irônica. Esta fase (a fase gauche) tem como características o pessimismo, o isolamento, o individualismo e a reflexão existencial. Nota-se nesta fase um desencanto em relação ao mundo. Nesta fase, sem se deixar envolver, o poeta mantém um certo distanciamento do mundo à sua volta, o que lhe possibilita brincar e soltar a razão, deixando-a entregue a si mesma, maquinando incertezas e certezas, mais afeitas a negar e anular que a construir. Daí os temas do cotidiano, da família, do isolamento, da monotonia entendiante das coisas e do viver, expressos numa linguagem coloquial plena de ironia seca, sarcasmo e humor desencantado, onde sentimento e emoção são refreados.
Obras características dessa fase: Alguma poesia, Brejo das almas e Sentimento do mundo, obra já considerada de transição para a fase social.
NO MEIO DO CAMINHO
No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra
Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho no meio do caminho tinha uma pedra.
2ª fase: Eu menor que o mundo — marcada pela poesia social. Esta fase, chamada fase social, é marcada pela vontade do poeta de participar e tentar transformar o mundo, o pessimismo e o isolamento da 1ª fase é posto de lado. O poeta se solidariza com os problemas do mundo. Nesta fase, sem se distanciar, deixa-se envolver pela realidade à sua volta e canta a impotência e a solidão em um mundo mecânico, frio e político; a decepção e a falta de perspectiva diante da fragmentação causada pela guerra; o sofrimento e a solidariedade do ser humano brasileiro e universal. Temas estes abordados em tons ora esperançosos, ora desesperançosos, com a mesma ironia, humor e sobriedade.
Obras características dessa fase: José