As cruzadas segundo os muçulmanos

1564 palavras 7 páginas
A invasão bárbara
Foi um dia de terror. Em 15 de julho de 1099, milhares de guerreiros loiros entraram em Jerusalém matando adultos, velhos e crianças, estuprando as mulheres e saqueando mesquitas e casas. As ruas se transformaram numa imensa poça de sangue. Os poucos sobreviventes tiveram de enterrar os parentes rapidamente antes que eles próprios fossem presos e vendidos como escravos. Dois dias depois, não havia sequer um muçulmano em Jerusalém. Tampouco havia judeus. Nas primeiras horas da batalha, muitos deles participaram da defesa do seu bairro, a Juderia. Mas, quando os cavaleiros invadiram as ruas, os judeus entraram em pânico. A comunidade inteira, repetindo um gesto ancestral, reuniu-se na sinagoga para orar. Os invasores bloquearam as saídas, jogaram lenha e atearam fogo à sinagoga. Os judeus que não morreram queimados foram assassinados na rua.
A cena é narrada em As Cruzadas Vistas pelos Árabes, do libanês radicado na França Amin Maalouf. Seu livro é uma tentativa de contar as cruzadas do ponto de vista de quem estava do lado de lá. Para os cronistas muçulmanos, na verdade, não existiram cruzadas. As investidas cristãs em seus territórios ficariam conhecidas como as invasões dos francos (porque a maioria dos cruzados falava o francês), um período de terror e brutalidade na história do Islã.
Lá vêm eles
A primeira investida dos francos, ocorrida em 1096, três anos antes do terrível ataque a Jerusalém, não chegou a assustar o sultão turco Kilij Arslan, que comandava os territórios do atual Afeganistão até o que viria a se chamar, séculos depois, de Turquia. Liderado por um tal de Pedro, o Eremita, o grupo que se aproximava de Constantinopla com a ameaça de exterminar todos os muçulmanos da região mais parecia um bando de mendigos maltrapilhos. Entre os guerreiros, havia uma multidão de mulheres, velhos e crianças – um inimigo muito menos ameaçador do que os cavaleiros mercenários que o sultão estava acostumado a enfrentar.
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