As Articula Es Das M Sicas Popular E Erudita No Contexto Das Tradi Es Ocidental E Oriental
O filósofo Sócrates costumava perguntar a diversos artistas e profissionais do mundo grego o que, de fato, cada um deles fazia. Essa pergunta - genuinamente grega - pela essência de algo, pelo seu "que", ainda ressoa em nossa cultura ocidental como uma inquietação legítima, mesmo tendo passado já mais de dois mil anos. Muitas vezes, o diálogo socrático levava o especialista em uma determinada área a admitir que, na verdade, não conseguia responder com clareza a essa questão fundamental sobre a própria atividade que exercia com grande destaque.
Da mesma forma, se questionarmos músicos profissionais acerca da essência da música erudita e da música popular, talvez acabemos sem uma resposta satisfatória. No nosso caso, a pergunta pelo "que" é também o questionar a "diferença" entre duas identidades. O que é música erudita? O que é música popular? Qual é a diferença entre música erudita e música popular?
Comecemos pela primeira, mas, inicialmente, tornemos mais popular a pergunta sobre a essência da música erudita ou "clássica": qual é a da música erudita? Teremos de peregrinar pela estrada dos preconceitos.
Muitos atribuem à música erudita o peso de uma tradição milenar, envelhecida pelo tempo e presa ao passado. Puro desconhecimento: há muita produção contemporânea na música erudita, há muita música erudita sendo feita hoje. O fato dessa música não ser suficientemente divulgada é uma questão social e política que não faz parte da essência da música erudita.
Claro está, por outro lado, que há muita música dos mestres do passado interpretada no presente. Isso, no entanto, não caracteriza em si a música erudita: toda proposta artística de qualidade tem uma tendência a perpetuar-se de alguma forma. Não apenas uma sinfonia clássica, mas também certos romances, coleções de poemas, quadros, esculturas, filmes, fotografias, peças de teatro e músicas populares são contemplados